quarta-feira, 15 de agosto de 2012

cores não encaixavam entre os participantes do jogo 2



           A verdade sobre os desastres que foram as minhas experiências inter-raciais na adolescência, não passa apenas pela resposta simplista de “gostar ou não gostar”, mas por uma coisa adicional, pouco falada e que faz toda a diferença. A não-atracção física entre as raças. Sim, é preciso dizer em voz alta que tal coisa existe, que não se trata de um mito de gente mal-amada.

Um tipo ao abordar uma miúda com quem quer estabelecer algum tipo de relação, tem de jogar com a ansiedade de não saber se ela o acha atraente, desinteressante ou se não há sentimento, emoções ou atracção física. E só com estes, já vemos os dramas que surgem numa coisa que deveria ser simples à partida. Mas a estas razões basilares das relações amorosas humanas, pode-se adicionar a dúvida mais importante de todas para mim, homem negro, o simples (mas complexo) facto de muitas meninas naquele período simplesmente não acharem que os rapazes negros fossem atraentes. Não havia o convívio social, crescimento, um sentimento de normalidade que faz que vejamos uma pessoa pela sua natureza, que há com os miúdos de hoje. Estes, que cresceram uns com os outros e que mesmo admitindo uma suposta identidade cultural diferente, não se deixam atrapalhar por ela e vêem-se uns aos outros como homens e mulheres, com quem querem partilhar experiências emocionais, sexuais e amorosas.

 Nos “meus tempos” as coisas não se passavam assim…se havia miúdas que curtiam-me ou a outro rapaz negro, nunca o demonstraram de modo claro ou explicito…e todas as minhas “abordagens” foram desastrosas, porque bastava ver o ar de incredulidade nos olhos delas para perceber que estava perante um momento “wtf”. Não havia maldade ou racismo na atitude, tratava-se apenas de uma era onde as raças se mantinham separadas nas relações amorosas, onde toda a gente e o seu primo ficavam incrédulos ao ver um casal inter-racial de mãos dadas a passear na rua. Sem o hábito da convivência, é preciso uma personalidade bem acima da média para olhar para outro homem ou mulher e ver neles aquilo que eles são…outro homem ou mulher, não um homem negro ou mulher negra, chinesa, indiana, etc.

     Eu posso, por experiência própria, dizer que houve mais do que uma situação em que uma rapariga branca me disse a mim ou a outra pessoa que simplesmente não achava os homens negros atraentes, TODOS, sem excepção…não um ou dois, mas todos, como se os tivesse conhecido todos numa festa qualquer. Acreditem que tal coisa não faz nada bem á nossa auto-estima, já fragilizada pela insegurança da adolescência.

   Então vamos fazer um resumo, temos um adolescente inseguro numa quase “white area only”, temos o furacão hormonal a acontecer, temos as primeiras paixões e as desilusões que aconteceram, em muitos casos, pela não-compreensão de uma atracção inter-racial. Algumas reacções foram dignas da visualização de um vídeo “dog on cat” no Youtube, acreditem. E as respostas? Oh Meu Deus, as respostas…tudo desde:

  “Mas não achas que estarias melhor com miúdas da tua raça?”
Até…

 “Olha Edu, desculpa mas não há atracção…não quero que penses que é racismo porque não é…é que a cor põem me off”

Mas sabem uma coisa? Certa vez (há muito pouco tempo), a falar com alguém que prefiro não identificar, mas que começava a subir na minha consideração…entre conversas sobre a vida amorosa, dissabores e desilusões, apercebi-me que dita pessoa nunca seria capaz de andar com um homem negro. Foi uma resposta aqui, uma dica ali…e vi logo ali uma pessoa que, mesmo não tendo sorte no amor, continuava a procurar nos mesmos cantos manhosos…sem sucesso.

   E apercebi-me que mesmo agora, passados tantos anos, continuam a aparecer pessoas que têm posturas tão limitadas, que só visto. Encalhados e encalhadas, mas que não olham para o lado, para quem tem amor para dar…apenas porque o fenótipo não é o mesmo. Apenas porque têm a visão limitada e preferem a norma, em vez de aquilo os faria sentir normais.
   Eu? Eu desde sempre fui ensinado e estimulado a abrir o meu coração ao mundo, a aceitar a ideia de que o amor pode vir de qualquer lado, sob qualquer forma e que fechar os olhos a outra cor, credo ou cultura, pode fazer-nos perder o amor da nossa vida.
 Por isso, embora tenha sido magoado muitas vezes na vida por este bloqueio visual…esta dificuldade de conceptualização mental de uma relação inter-racial que ocorre ainda agora agora…queria deixar o meu brinde a todas as mulheres valentes que eu conheço, que não tiveram medo de amar, que tiveram a visão de ver para além da cor, fora da norma e para o universo. Eu sei quem vocês são!

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