A verdade sobre os desastres que foram as minhas experiências inter-raciais na adolescência, não passa apenas pela resposta simplista de “gostar ou não gostar”, mas por uma coisa adicional, pouco falada e que faz toda a diferença. A não-atracção física entre as raças. Sim, é preciso dizer em voz alta que tal coisa existe, que não se trata de um mito de gente mal-amada.
Um tipo ao
abordar uma miúda com quem quer estabelecer algum tipo de relação, tem de jogar
com a ansiedade de não saber se ela o acha atraente, desinteressante ou se não há
sentimento, emoções ou atracção física. E só com estes, já vemos os dramas que
surgem numa coisa que deveria ser simples à partida. Mas a estas razões
basilares das relações amorosas humanas, pode-se adicionar a dúvida mais
importante de todas para mim, homem negro, o simples (mas complexo) facto de
muitas meninas naquele período simplesmente não acharem que os rapazes negros
fossem atraentes. Não havia o convívio social, crescimento, um sentimento de
normalidade que faz que vejamos uma pessoa pela sua natureza, que há com os miúdos
de hoje. Estes, que cresceram uns com os outros e que mesmo admitindo uma
suposta identidade cultural diferente, não se deixam atrapalhar por ela e
vêem-se uns aos outros como homens e mulheres, com quem querem partilhar
experiências emocionais, sexuais e amorosas.
Nos “meus tempos” as coisas não se passavam
assim…se havia miúdas que curtiam-me ou a outro rapaz negro, nunca o
demonstraram de modo claro ou explicito…e todas as minhas “abordagens” foram
desastrosas, porque bastava ver o ar de incredulidade nos olhos delas para perceber
que estava perante um momento “wtf”. Não havia maldade ou racismo na atitude,
tratava-se apenas de uma era onde as raças se mantinham separadas nas relações
amorosas, onde toda a gente e o seu primo ficavam incrédulos ao ver um casal
inter-racial de mãos dadas a passear na rua. Sem o hábito da convivência, é
preciso uma personalidade bem acima da média para olhar para outro homem ou
mulher e ver neles aquilo que eles são…outro homem ou mulher, não um homem
negro ou mulher negra, chinesa, indiana, etc.
Eu posso, por experiência própria, dizer que houve mais do que uma situação em que uma rapariga branca me disse a mim ou a outra pessoa que simplesmente não achava os homens negros atraentes, TODOS, sem excepção…não um ou dois, mas todos, como se os tivesse conhecido todos numa festa qualquer. Acreditem que tal coisa não faz nada bem á nossa auto-estima, já fragilizada pela insegurança da adolescência.
Então vamos fazer um resumo, temos um adolescente inseguro numa quase “white area only”, temos o furacão hormonal a acontecer, temos as primeiras paixões e as desilusões que aconteceram, em muitos casos, pela não-compreensão de uma atracção inter-racial. Algumas reacções foram dignas da visualização de um vídeo “dog on cat” no Youtube, acreditem. E as respostas? Oh Meu Deus, as respostas…tudo desde:
“Mas não achas que estarias melhor com miúdas
da tua raça?”
Até…
“Olha Edu, desculpa mas não há atracção…não quero que penses que é racismo porque não é…é que a cor põem me off”
“Olha Edu, desculpa mas não há atracção…não quero que penses que é racismo porque não é…é que a cor põem me off”
Mas sabem
uma coisa? Certa vez (há muito pouco tempo), a falar com alguém que prefiro não
identificar, mas que começava a subir na minha consideração…entre conversas sobre
a vida amorosa, dissabores e desilusões, apercebi-me que dita pessoa nunca
seria capaz de andar com um homem negro. Foi uma resposta aqui, uma dica ali…e vi
logo ali uma pessoa que, mesmo não tendo sorte no amor, continuava a procurar
nos mesmos cantos manhosos…sem sucesso.
E apercebi-me que mesmo agora, passados
tantos anos, continuam a aparecer pessoas que têm posturas tão limitadas, que
só visto. Encalhados e encalhadas, mas que não olham para o lado, para quem tem
amor para dar…apenas porque o fenótipo não é o mesmo. Apenas porque têm a visão
limitada e preferem a norma, em vez de aquilo os faria sentir normais.
Eu? Eu desde sempre fui ensinado e
estimulado a abrir o meu coração ao mundo, a aceitar a ideia de que o amor pode
vir de qualquer lado, sob qualquer forma e que fechar os olhos a outra cor,
credo ou cultura, pode fazer-nos perder o amor da nossa vida.
Por isso, embora tenha sido magoado muitas
vezes na vida por este bloqueio visual…esta dificuldade de conceptualização
mental de uma relação inter-racial que ocorre ainda agora agora…queria deixar o
meu brinde a todas as mulheres valentes que eu conheço, que não tiveram medo de
amar, que tiveram a visão de ver para além da cor, fora da norma e para o
universo. Eu sei quem vocês são!
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