terça-feira, 14 de agosto de 2012

A minha adolescência escolar foi uma bela merda


A minha adolescência escolar foi uma bela merda...com todos os dramas inerentes a condição de quem não sabe como fazer, como dizer...mas que sabe o que quer dizer e o que quer fazer. Foi horrível, foi triste e eu senti me enganado porque via os filmes de adolescentes escolares dos anos 80 e pensava que nos 90's a coisa seria a melhor...afinal tiveram mais dez anos para arranjar mais argumentos com miúdas boas a querer sexo com os cromos, mais argumentos de vingança sobre os gajos desportistas e populares, mais argumentos onde, de um modo ou de outro acabámos os heróis da escola. Ora porra se alguma destas coisas se passaram. Fui enganado e em vez disso, acabei numa realidade onde não era totalmente popular ou impopular, nem carne nem peixe. Nunca a primeira escolha, nunca a última escolha...as vezes convidado para as festas de aniversário, outras vezes ostracizado completamente.

  Se tiveste um bom período no liceu, fantástico para ti e vai te foder. Provavelmente sabias jogar à bola, tinhas uma DT 50 ou um belo par de mamas...o resto de nós, desenraizados, com gostos diferentes, cores diferentes e opiniões diferentes, tivemos de ver os outros a viver, das linhas laterais e sonhar com aquilo que parecia ser uma grande existência (pelo menos na nossa concepção de adolescentes). E acreditem, não foi por falta de tentativa. O sistema escolar português não é tão extremo como o americano (pelo menos a versão movies), mas há diferença de classes, há segmentação e diferenciação racial, ou pelo menos havia nesses tempos longínquos. 

  Foi uma bela merda e à excepção de algumas amizades não há nada que me faça querer revisitar aquela desgraça, à semelhança de uma comédia idiota da Disney, sobre adultos que trocam de corpo com os seus filhos adolescentes. Mas se me dessem a oportunidade, teria sido um pouco mais fdp, porque é algo que parece popular em todas as eras...teria estudado (ainda) mais para alcançar o meu sonho...e teria sido mais Lobo Mau e menos Capuchinho Vermelho para as meninas que eu conhecia. Agora que olho para trás até me embaraço com alguns momentos tonhós...mas por outro lado não engravidei ninguém e não parti nenhum coração.

  E no entanto foi dos meus melhores períodos na vida...o belo de "bela merda! Foi onde comecei a praticar mais desporto, foi onde percebi que provavelmente sou mais culto que o resto das pessoas (não que isso me tenha feito muito por mim), foi onde conheci 4/5 pessoas que foram espectaculares para mim, num período nada espectacular...foi onde percebi que gosto de ensinar, onde me apercebi o que dói amar alguém e não ser correspondido, foi onde me apercebi que seios das colegas tem a sua própria gravidade que parece afectar apenas os meus olhos...onde aprendi grandes técnicas de masturbação...e a lição mais importante? Aprendi que as pessoas se regem por um jogo sofisticado de desejos, necessidades, interesses versus nossa companhia ou companhia de outrem. Mas esta tem sido uma lição difícil de aprender, por teimosia minha e por persistentemente acreditar que isto não é verdade para todos os casos. Mas enfim...
  A minha adolescência foi uma merda e eu adorei-a mesmo assim, por que acreditava em tudo com muito mais força, ainda não tinha levado bicos na boca, porque acreditava que tudo era possível só por se querer...tudo era intenso, tudo era lindo, tudo era novo...doido e desesperado...urgente, mais do que urgente, era JÁ! Como era importante que chegasse a segunda-feira para contar sobre aquele filme que tínhamos visto no Sábado...ou aquela música da rádio ao fim do dia. Gravar músicas em cassete a partir da radio, comprar uns All Star novinhos. Ficar a roer um dia inteiro para saber da resposta da  carta que tínhamos deslizado para dentro do dossier da nossa amada. Como tudo doía, como tudo parecia tão intenso e puff, desaparecia ao fim de uma semana ou duas por troca de uma nova paixão ou descoberta.

  Foi uma bela merda sim...odiei-a e amei-a com a intensidade de quem já não é uma criança mas ninguém considera um homem. Odiei-a e amei-a e agora que as névoas da memória começam a cobrir certos factos e certas caras e certos acontecimentos são rescritos na minha cabeça...vejo-a como uma época dourada da minha vida. 

  Obrigado Cheila, David, Bruno, Carlos Tapadinhas, Andreia, Ferrugem, Anas (todas elas), Gabriela, Rosa, Urubú, Cláudia, Prof sexy de Psicologia, Carlos da Viola, horas a jogar basket, Canina, cassetes com porno, grunge, R.E.M, aquele tipo que me gravou uma cassete com o CD dos Greatest Hits 1 dos Queen, Naf Naf, Uniform, Levis, All Star, Gabriel, Abdul, David...e todos os outros incógnitos e famosos na minha memória.

2 comentários:

  1. Por acaso acho que todos nos sentimos assim, Edu... A preparatória/liceu foi talvez a época que mais descobertas nós fazemos, apenas igualadas pelo numero de cenas idiotas que hoje em dias nos ridicularizam, mas sempre com aquela sensação de "fazia aquilo outra vez"!

    por mais populares/impopulares, betinhos/radicais que tenhamos sido, é incrível o que aprendemos durante esse período.

    Lembro-me que era um daqueles putos sem interesse nenhum, que por vezes era gozado por preferir jogar ao berlinde ou à bola lá nos montes da escola, em vez de jogar ao "bate pé", "verdade ou consequência", etc. Fartei-me! Comecei a descobrir as miúdas por essa altura, devido a ser gozado por não o fazer. Agora penso: "ainda bem que fui gozado..."

    Em pouco tempo passei de "puto ridículo" a "miúdo interessante", e o ego era alimentado cada vez que me pediam para preencher aqueles questionários com perguntas marotas, que depois eram lidos por outras raparigas, que por sua vez me pediam para fazer os questionários delas, me mandavam bilhetinhos, cartas no Dia de S. Valentim, etc... Apesar de agora achar este tipo de coisas infantis, a verdade é que ainda tenho algumas dessas cartas e bilhetinhos... "fazia aquilo outra vez!..."

    Acredito que hoje em dia as coisas sejam diferentes para os putos, mas de certeza que eles também sentirão isso mais à frente, por mais ridículo que isso nos pareça agora.

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    1. Foi merdoso em muitos sentidos, mas partes houveram que nunca trocaria na vida. É como tudo na vida, uma experiência agridoce que vamos desgastando as partes más e polindo as partes boas até ficarem douradas. Infelizmente eu sou ao contrário, as coisas más continuam a definir aquilo que sou actualmente como pessoa...provavelmente muita mágoa não resolvida ehehe

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